terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Os cara de joelho

Recentemente escrevi um pequeno texto, que gerou alguma controvérsia, sobre uma lei moral (em princípio lei da física não é..) que nos obriga a identificar a árvore genealógica de um bebé, só de olhar para ele. Mais do que ter uma opinião sobre se o bebé é bonito ou feio, o que importa é não falhar na identificação do nariz do avô e do sorriso de uma tia da mãe, em terceiro grau. Até parece que o bebé não é uma nova pessoa, com identidade, e com a sua própria dose de beleza. Em princípio é normal que tenha a boca da mãe e os olhos do pai. Se foram eles que o fizeram, o que é que isso tem de extraordinário?
Mas atenção, e peço desculpa se não fui claro, isso uma questão diferente de haver ou não bebés recém-nascidos que são lindos! Só se consegue começar a desenhar árvore genealógica do bebé lá para os 3 meses ou assim. Antes disso, a mim pelo menos custa-me distinguir o nariz de uma toupeira do nariz de um rato de esgoto. Apareceram logo as mães, a dizer que é mentira, que os próprios bebés eram lindos ainda dentro da barriga e não sei quê... não faz sentido. Não são. Só aos vossos olhos. É das hormonas. Não é a desculpa que vocês usam para tudo? Eu aposto que se mostrar uma ecografia do meu joelho a uma recém mãe ela diz que o meu futuro bebé vai ser lindo, e que "tem os olhos lindos como o pai". Não... é o menisco fracturado.
Quando tenho lá uma mãe a dizer que não só eram lindos como continuam a ser passados 32 anos, enfim... tenho que pensar se vale a pena continuar a escrever para cépticos.
Eu acho-lhe uma graça...!

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Não há bebés bonitos

Um bebé não é bonito nem feio. É parecido com a mãe, é a carinha do pai, tem as orelhas da avó, os olhos do tio... mas é bonito ou feio? Não se sabe. No máximo, é querido, ou fofinho. Sim, mas é um bebé lindo, não? Ah, isso não sei dizer. Mas que é igualzinho ao irmão quando tinha a mesma idade, lá isso é. Olha aqui nesta fotografia! Parece que há uma obrigação moral (porque legal, em princípio não é) de identificar pelo menos três membros da família do bebé pelas feições do próprio. Senão, somos insensíveis.
Pessoas com filhos bebés, proponho-vos um jogo giro: peguem num bebé aleatório, de um amigo ou assim, apresentem-no a 10 pessoas (que não conheçam esse vosso amigo) como sendo vosso e perguntem-lhes se o vosso bebé é lindo. A minha previsão é a seguinte: 3 pessoas vão dizer que é igualzinho à mãe, 5 pessoas vão ver o sorriso do avô, vosso pai, e 2 pessoas vão dizer que parece que estão a ver-vos quando tinham aquela idade. Depois digam assim "Pois, mas o meu bebé não é esse, é este!" e mostrem o vosso bebé verdadeiro. Não esperem mais do que "Ah, ai é? É fofinho...".
Eu acho-lhe uma graça...!

sábado, 3 de dezembro de 2016

A (nossa) criança e a prenda


Finamente descobri porque é que no Natal se dão prendas aos adultos. Porque é muito mais fácil. Se oferecermos um brinquedo ou um livro a um adulto, mesmo que não goste, ele não vai fazer cara de desgostoso ou de "a sério?!". Faz a cara que tem a fazer e vai ao www.preferiabeirao.pt no dia a seguir, mas sem nós sabermos. E nós ficamos a achar que ele gostou muito. Se for uma criança não, corremos o risco de ficar a olhar com cara de "que raio é isto?", largar aquilo e começar a brincar com o papel de embrulho. E nós não podemos carregar nas costas o peso de ter oferecido uma prenda que é menos interessante que o próprio papel em que vinha embrulhada. Então, imediatamente libertamos a criança que há dentro de nós, e começamos a brincar com o presente que nós próprios oferecemos, não só ensinando à outra criança como se faz, como também relatando alto e bom som a beleza e a utilidade do que acabámos de oferecer, para os pais e restantes adultos ouvirem. "Ah, olha tão lindo! Olha, dá para abrir, saem daqui coisas. Pode-se pôr isto aqui em cima, e fica uma girafa. É tão giro. E também dá para fazer castelos de areia na praia". Neste momento a criança pega naquilo, atira para longe, para não ter que passar por aquela vergonha alheia novamente, e agarra-se ao papel de embrulho. Já os pais, fazem a cara que têm a fazer e dizem "ah, ela faz sempre isso no início, amanhã já só quer brincar com isso". Claro que sim, aposto que foi o que o José e a Maria disseram aos Reis Magos quando eles ofereceram ouro, incenso e mirra ao menino. "Não se preocupem, se vierem cá amanhã por esta hora, ele já mudou o nome para Salgado, este estábulo parece uma loja d'o Boticário e já embalsamou o burro e vaca".
Eu acho-lhe uma graça...!