sábado, 3 de dezembro de 2016

A (nossa) criança e a prenda


Finamente descobri porque é que no Natal se dão prendas aos adultos. Porque é muito mais fácil. Se oferecermos um brinquedo ou um livro a um adulto, mesmo que não goste, ele não vai fazer cara de desgostoso ou de "a sério?!". Faz a cara que tem a fazer e vai ao www.preferiabeirao.pt no dia a seguir, mas sem nós sabermos. E nós ficamos a achar que ele gostou muito. Se for uma criança não, corremos o risco de ficar a olhar com cara de "que raio é isto?", largar aquilo e começar a brincar com o papel de embrulho. E nós não podemos carregar nas costas o peso de ter oferecido uma prenda que é menos interessante que o próprio papel em que vinha embrulhada. Então, imediatamente libertamos a criança que há dentro de nós, e começamos a brincar com o presente que nós próprios oferecemos, não só ensinando à outra criança como se faz, como também relatando alto e bom som a beleza e a utilidade do que acabámos de oferecer, para os pais e restantes adultos ouvirem. "Ah, olha tão lindo! Olha, dá para abrir, saem daqui coisas. Pode-se pôr isto aqui em cima, e fica uma girafa. É tão giro. E também dá para fazer castelos de areia na praia". Neste momento a criança pega naquilo, atira para longe, para não ter que passar por aquela vergonha alheia novamente, e agarra-se ao papel de embrulho. Já os pais, fazem a cara que têm a fazer e dizem "ah, ela faz sempre isso no início, amanhã já só quer brincar com isso". Claro que sim, aposto que foi o que o José e a Maria disseram aos Reis Magos quando eles ofereceram ouro, incenso e mirra ao menino. "Não se preocupem, se vierem cá amanhã por esta hora, ele já mudou o nome para Salgado, este estábulo parece uma loja d'o Boticário e já embalsamou o burro e vaca".
Eu acho-lhe uma graça...!

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