quinta-feira, 17 de julho de 2014

Diz-me como esticas o pára-vento e dir-te-ei quem és!

Basta olhar um minuto em redor de uma praia cheia de gente para perceber que tipo de pessoa está atrás de cada pára-vento.

Há o arrumadinho, que fica stressado só de pensar em ir à praia e ficar cheio de areia nos... bolsos. Chega, com o pára-vento num saquinho de pano com um cordão perfeitamente enrolado a fechar a "boca" do saco e atado com um laço simétrico. A toalha dentro do saco de praia, devidamente dobradinha. Chega, escolhe uma zona o mais plana possível, pousa o saco da praia e o saco o pára-vento encostado ao saco, saca de um ancinho e põe-se a alisar a areia. Limpa pormenorizadamente uma área do triplo do que vai precisar para esticar o pára-vento e a toalha, só para garantir que não vento a bater em montinhos de areia ali a perto. De seguida estica o pára-vento, tão esticadinho que a areia a bater no pára-vento produz o som de uma harpa. Tem o cuidado de virar aquela aba inferior para o lado de fora e cobri-la de areia, distribuída homogeneamente ao longo de todo o pára-vento, sem esquecer a palmadinha para assentar e alisar essa camada de areia, não vá o som da harpa sair distorcido.

E há, claro, o desleixado. Leva a toalha à volta do pescoço, toda enrolada, e o pára-vento debaixo do braço, sem saco, e com os paus ainda cheios de areia da utilização anterior. Chega, atira a toalha para qualquer lado, e põe-se a espetar os paus do pára-vento. Cada um deles fica a uma distância diferente do anterior, uns mais enterrados que outros. O tecido do pára-vento fica todo engelhado, parece uma sanfona, e a linha superior do pára-vento não é horizontal e paralela ao chão mas sim um arco, de tal forma que a areia passa toda por cima do pára-vento, mesmo à altura do nariz do gajo. A solução seria estar sempre deitado, mas a areia também passa por baixo. Aquela aba inferior ficou metade virada para dentro e a outra metade virada para fora, com duas pazadas de areia mal distribuídas, mais parece aquelas portas de casa de banho dos centros comercias que não vão até ao chão, fica-se a ver os pés (e as calças) do pessoal ali por baixo. Não tem hipótese. Vai comer iogurte com areia.

Há ainda o distraído. Chega todo contente por ter a oportunidade de disfarçar um bocado o bronze da t-shirt e quer é esticar-se ao sol o mais rápido possível. Saca do pára-vento e estica-o todo apressado, até bem esticado e a formar o devido "U" em redor da toalha. Estica a aba inferior e manda uns pontapés na areia para cima, só para aquilo não levantar. Despe a t-shirt, pendura-a num dos paus do pára-vento, um dos das pontas, estica a toalha e espoja-se todo na sua toalha XXL, já antiga, oferta da Old Spice. Então repara que o vento vem precisamente do lado que está aberto. Esticou o pára-vento ao contrário e leva com a areia toda na testa.

E depois há o chico-esperto. Não leva pára-vento, só a toalha. Escolhe uma pessoa com um pára-vento grande e bem esticado, de forma a optimizar a área que este protege, e põe-se na direcção desse pára-vento. Mas para garantir que está mesmo protegido do vento e da areia põe-se o mais próximo possível do dono do pára-vento, como se estivessem ali na praia juntos e se conhecessem desde sempre. Normalmente quem se lixa é o arrumadinho. Ninguém o mandou alisar a areia para ele e para mais 2 toalhas.

Eu acho-lhe uma graça...!

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Os nómadas

Pessoas normais:
Mulher - Vamos à praia. Tens tudo?
Homem - Tenho as toalhas. Já pus na mochila.
Mulher - E o protector?!
Homem - Esqueci-me...
Mulher - És sempre a mesma coisa, se não sou eu a pensar nas coisas...!

Nómadas:
Mulher - Vamos à praia. Já 'tá tudo?
Homem - Já puseste tudo no atrelado? Puseste a tenda grande, aquela de lona muito forte e pesadona, para não voar com o vento, como eu te disse? E os ferros enormes para pôr aquilo no ar que estão dentro daquele saco de pano grande?
Mulher - Pus, vi-me à rasca para acartar aquilo! Mas porque é que não levamos só o chapéu de sol e o pára-vento? Hoje nem está assim tanto vento, e essa tenda dá um trabalhão a montar!
Homem - São 7h mas, se formos já, às 9h está tudo montado. E põe também o chapéu e o pára-vento, para pôr à volta da tenda, a fazer de terraço. Dá jeito para pôr a mesa à hora de almoço. Levamos aquela maior, que a tua mãe vai connosco e na pequena ficamos apertados.
Mulher - Já está, e as cadeiras também.
Homem - Levas uma a mais para pousar os pés e aquela espreguiçadeira para dormir a sesta?
Mulher - Porque é que não dormes a sesta deitado no chão?
Homem - Custa-me muito a deitar e a levantar. A espreguiçadeira dá mais jeito. E põe lá as mantas para a gente pôr as cadeiras em cima. Se as pômos na areia enterram-se todas e fico todo torto. Põe também uma manta a mais para os cachopos jogarem às cartas em cima daquilo, senão a bater com as cartas atiram areia para todo o lado!
Mulher - As mantas também já levei. Puseste a televisão e o gerador?
Homem - Claro. Ainda por cima hoje vão estar na Gafanha e eu quero ver. O Xico Gordo é de lá, é bem capaz de aparecer o sacana.
Mulher - Até à hora de almoço acabo a camisolita para a tua sobrinha. Aquilo está quase. Levo aqui no saco das revistas a lã e as agulhas. Depois quando sair o barco podias lá ir ver se vem carapau para eu fazê-lo fresquinho para amanhã.
Homem - 'Tá bem. E hoje levas o quê?
Mulher - Frango assado com batatas cozidas. É o que está embrulhado em jornal. O resto é pão, iogurtes, uvas, pêssegos, uma torta de laranja que a minha mãe fez, um melão, água, coca-cola para os cachopos, e os remédios estão no açafate, cuidado ao tirar as coisas senão espalhas aquilo tudo.
Homem - E o vinho?
Mulher - Esqueci-me...
Homem - És sempre a mesma coisa, se não sou eu a pensar nas coisas...!

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Os apanha-bolas

Quando se fala em bebés e crianças em geral, e das coisas menos boas que eles também trazem, toda a gente fala das noites mal dormidas, do dinheiro que se gasta em fraldas ou do dinheiro que custam os livros para a escola. Eu fico intrigado é com o facto (ainda sou do tempo em que não se confundia factos com vestuário desenhado por estilistas italianos) de ninguém falar daquele Verão (e também sou do tempo em que isto era com letra maiúscula) em que as crianças deixam de querer brincar exclusivamente com baldes e  fazer castelos de areia para querer jogar raquetes. É um erro comprar um par de raquetes de praia a crianças com menos de 10 anos sem irmãos. Eles vão querer jogar. Com quem? Exacto, com os pais.
Primeiro, é preciso ensiná-los a pegar na raquete. "Não é com as duas mãos filho..." é normalmente a indicação mais utilizada. Depois, mostrar-lhes como se começa. O pai pega na bola com a mão livre, larga-a um pouco acima da altura da cintura e com a raquete atira-a na direcção do filho. A bola cai no chão. "Vá, agora és tu filho". A criança baixa-se para apanhar a bola, a raquete bate na areia e salta da mão. A criança apanha de novo a raquete, mas como tem a bola na outra mão não consegue pegar na raquete em condições. Larga a bola e agarra a raquete com as duas mãos. É nesta altura que o pai faz a primeira intervenção, para ajudar o filho a pegar na raquete com uma mão. De seguida apanha a bola, põe-lha na outra mão e repete "Vá, agora és tu filho". A criança tem a bola na mão não dominante. O que é que acontece? Exacto. Atira a bola descontroladamente com toda a força para o ar, a bola sobe bem acima da altura dela, passa-lhe por cima da cabeça e cai atrás dela. Aqui o pai opta por intervir apenas verbalmente e diz-lhe "A bola está atrás de ti filho. Tens que atirar a bola ao ar com menos força". A criança apanha a bola e repete o processo umas 7 vezes, até conseguir acertar a primeira vez na bola com a raquete. A raquete sai-lhe disparada da mão. A sorte é que é mais pesada que a bola e cai ali perto. A criança apanha a raquete, o pai apanha a bola e recomeça. Atira a bola na direcção da criança, que não acerta na bola. E recomeça a criança. Mas a bola nunca vai na direcção do pai. Lá vai o pai, areia fora atrás da bola. E o processo repete-se até à hora em que acaba a digestão e já se pode ir à água. Se fizessem um daqueles mapas "hot zone" do espaço ocupado pelos 2 durante este período, a criança teria andado num raio de 1.5m e o pai teria pisado 1984 vezes todos os grãos de areia de um círculo com centro no filho e raio de 15m. Isto todos os dias, até quase ao final das 2 semanas de férias na praia, se o pai tiver paciência. Não é raro ao fim das primeiras 5 vezes ouvir-se um "Olha, vai pedir à mãe que te ensine, vai lá..."
Eu acho-lhe uma graça...!

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Pontos de vista

"Ah... 'tá bem, não percebeste..."
O típico lamento daquele jogador de futebol ocasional, logo após mandar um estoiro na bola, na direcção de um espaço vazio, mas que ele considera alcançável por um colega de equipa, quando toda a gente vê que ninguém neste Mundo apanhava aquele "passe", antes de sair, sem ajuda de uma mota (e das potentes)! Eu percebi bem, percebi perfeitamente que fizeste um passe de m*rda e que queres convencer toda a gente que a bola só se perdeu porque eu não consegui antecipar o teu pensamento nem consigo correr a 983Km/h.

"Ai vale bujas?!"
Indignação típica daquele jogador de futebol ocasional, que detesta ir à baliza, que sempre que lá vai é frango atrás de frango, mas que não quer dar o braço a torcer e quer passar a imagem de que a bola só entrou porque ele não se aplicou a fundo, propositadamente, porque pensava que não valia rematar com toda a força. Escusado será dizer que os remates são pouco mais que frouxos, e que se ele não se desviasse com medo da bola era mais que suficiente para defender.

"Fogo, estou ali desmarcado há meia hora!"
Reclamação típica do jogador de futebol ocasional, que não se mexe para receber a bola dos colegas, mas passa o tempo todo atrás de um defesa, com o braço no ar a pedir a bola, julgando que a bola lhe pode ir parar aos pés por tele-transporte.

terça-feira, 1 de julho de 2014

Diz-me como utilizas um agrafador e dir-te-ei quem és!

Toda a gente já passou por aquele desafiante momento em que tem que utilizar um agrafador para agrafar (quem diria) um conjunto de folhas de papel. Juntamos meia dúzia de folhas, sejam elas todas partes de um documento, sejam vários documentos independentes mas que dizem respeito ao mesmo assunto, e o passo seguinte é: "agora é só agrafar isto e já está".
Não está. Nunca é "só agrafar isto". Pelo menos nunca com esta leviandade que a expressão pode insinuar. Na verdade o sucesso do processo de agrafar um molho de folhas requer a concretização de uma quantidade de procedimentos intermédios, todos eles com potencial mais que suficiente para transformar o "só agrafar isto" num pesadelo.
Comecemos pelo princípio: "onde é que está o agrafador?". O agrafador nunca está num sítio prático. Eu acho que o agrafador é tão embaraçante que as pessoas depois de utilizá-lo atiram aquilo para os sítios mais recônditos do escritório, ou da casa, na esperança de não precisar de voltar a utilizá-lo nos próximos meses. Claro que após umas horas precisamos dele outra vez, e lamentamos não saber onde o pusemos. Mas lá o encontramos. O único agrafador que existe ali nas redondezas. O que é uma pena, porque o agrafador é daqueles minúsculos, daqueles para a escola primária, e precisamos de agrafar 20 folhas de papel todas juntas. E agora? Bem, agora vamos lá ver se estes agrafos anões dão para isto. Seguramos as folhas com uma mão, enfiamos o canto do molho de folhas na boca do agrafador e com a outra fazemos força para fechar o agrafo, o polegar em cima e o resto dos dedos em baixo. Bonito serviço, o agrafo ficou todo torto...! De um lado o braço do agrafo anão nem chegou a sair do outro lado do molho de folhas, e do outro saiu e ficou todo dobrado sobre si, em vez de ficar a abraçar as folhas. Temos que tirar este agrafo e tentar outra vez. O melhor é utilizar um daqueles instrumentos enigmáticos que parecem os dentes de um vampiro, que dizem que serve para tirar agrafos. Mas não me venham com coisas, ninguém tem uma coisa destas! Eu sei que a esmagadora maioria das pessoas usa um porta-minas, com aquela pontinha metálica por onde sai a mina. E resulta. Conseguimos tirar o agrafo, só com um arranhãozito ou dois nos dedos. E agora vamos lá tentar agrafar isto outra vez. Pousamos as folhas em cima de uma mesa, com o canto na boca do agrafador, mas desta vez espetamos uma murraça no agrafador. Espalham-se as canetas todas, a garrafa de água vira-se por cima do teclado do computador e o telemóvel esbardalha-se todo no chão, abre-se a tampa e a bateria sai disparada. Mas pelo menos agrafámos as folhas... Mentira! O agrafo desta vez nem furou as folhas, ficou todo encarquilhado ao cimo das folhas. No máximo fez um furito na primeira página.
Eu acho-lhe uma graça...!