quinta-feira, 6 de março de 2014

O doce da casa

"Olhe desculpe, o que é que tem o doce da casa?"

Eu acho-lhes uma graça...!!
As pessoas ainda não perceberam que "doce da casa" não é um nome que identifica unívocamente uma sobremesa diferente em cada estabelecimento de restauração mas sim o nome da sobremesa, que é igual em todo o lado. Eu calculo que este facto ainda surpreenda muita gente mas é verdade, é sempre a mesma!
Ninguém cujos pais não sejam primos direitos chama o empregado e pergunta "o que é que tem a mousse de chocolate?" ou "o que é que tem o leite creme?"... não faz sentido. Toda a gente sabe que a mousse de chcolate tem chocolate, o leite creme tem leite e o doce da casa tem leite condensado, ovos, bolacha e natas.
Que quem inventou a sobremesa lhe tenha chamado "doce da casa" possa não ter sido muito feliz, é verdade... mas eu também conheço uma pessoa que é natural da localidade de Panascos e os outros não andam sempre a perguntar-lhe "olhe desculpe, que tipo de pessoas é que vive em Panascos?".
"Ah, que engraçado, a senhora chama-se Maria José... deixe-me perguntar-lhe, a senhora é homem ou mulher?". Isso, experimentem. Deve ser bonito. Tão bonito quanto perguntar ao empregado o que é que tem o "doce da casa"...
Se calhar, a pessoa que inventou o "doce da casa" fê-lo, vá, em casa e achou por bem dar-lhe o nome do local de criação. Isso não significa que a sobremesa mude de constituição de sítio para sítio. Eu quando fui a Inglaterra por acaso apresentei-me como John, ou em Itália como Giovanni? Era o que faltava!
Eu podia perfeitamente inventar uma sobremesa com farinha, ovos moles e gelado de baunilha e chamar-lhe "delícia de morangos do nordeste". É um nome.
"Ah, mas esse nome não tem nada a ver com a sobremesa". Ai não? Não é deliciosa, queres ver?
"Não" Ai não? Então come menos. Ou então pede um doce da casa.

terça-feira, 4 de março de 2014

As cedências de lugar

Nunca se sentem naqueles lugares reservados a pessoas grávidas, idosas ou com deficiência física nos autocarros. Aquilo são autênticos bancos de fuzilamento. Sim, fuzilamento. Senão vejamos:

Normalmente esses lugares são constituídos por 2 pares de bancos, logo à entrada do autocarro, frente a frente, formando uma espécie de espaço de convívio rodoviário. 
Se te sentas num desses lugares, estando os outros 3 ocupados começas logo por ser fulminado com aquele olhar (apenas o olhar, se tiveres sorte) de quem pensa "Olha-me este artolas! Preguiçosão, não pode ir 5 minutos em pé... deve estar muito cansado, coitadinho! Eu com a idade dele já tinha 11 filhos e andava a surribar de manhã à noite!"... e ai de ti que peças, mesmo que educadamente, se podem desviar ligeiramente as hortaliças para te sentares. O mais provável é transformarem o olhar fulminante numa sequência inesgotável de adjectivos pejorativos acerca da tua educação, humildade e civismo, talvez o menos mau sendo "estadulho". No limite, se tiveres o azar de te sentares num desses lugares, pedindo para desviarem as hortaliças e abrires ou fechares a janela levas logo dois calduços que nem sabes de que terra és!
E porquê? Obviamente porque tu não és nem idoso, nem grávido nem deficiente físico e por isso, mesmo que não esteja ninguém em pé, tu também não te podes sentar ali. É assim que funciona.
A tua única hipótese é seres o primeiro a ocupar um desses lugares. Nesse caso, quando chegarem mais "pretendentes" tu já estás sentado e não tiveste que pedir a ninguém para desviar hortaliças e já tiveste a oportunidade de abrir ou fechar a janela.
Mas não te iludas, os donos desses lugares vão chegar, mais cedo ou mais tarde, e vão ser sempre mais do que os lugares disponíveis nesse espaço. O melhor é levantares o rabinho e ires lá para trás, para outro lugar qualquer, sem abrir a boca, assim que não houver nenhum dos 4 lugares vago.
Se chega uma 5ª pessoa, grávida, idosa ou deficiente física, tu vais ter que lhe perguntar se quer sentar-se no lugar que estás a ocupar. E acredita, não vais querer passar por isto num autocarro...
"Bom dia. Sente-se aqui neste lugar por favor."
"Está a chamar-me velha?! Eu ainda me aguento bem das canetas! Se for preciso ainda lhe dou dois pontapés no rabo!! Olha que esta...!"
"Eu por acaso estou grávida?! Desculpe se não pareço uma top model anorética dessas que você deve passar a vida a procurar na internet, em vez de estudar!! Olha que esta...!"
"Deficiente deve ser você mas é da cabeça! Eu não sou inválido! Lá porque uso uma bengala já não consigo estar em pé, queres ver?! Olha que esta..."

Ah, e nem penses em manter-te sentado no mesmo lugar. Qualquer uma destas respostas tem implícito um "Desaparece-me da frente que eu quero-me sentar aí!"... eu acho-lhes uma graça!