segunda-feira, 16 de setembro de 2013

A velhice

Hoje de manhã vi num programa informativo da televisão uma notícia sobre o homem mais velho do Mundo, que morreu ontem num lar de idosos dos Estados Unidos, com 112 anos.
Eu sei que 112 anos é uma idade respeitável, mas... o que é que isto nos interessa? Reparem que se trata de uma notícia dizendo que morreu um senhor muito velhinho, (supostamente) o mais velho do Mundo, que disse, "antes de morrer", que o segredo da sua longevidade era comer uma banana por dia.
Maravilhoso!

Primeiro, eu gostava de saber quem são os jornalistas que procuram e identificam as pessoas mais velhas do Mundo. Sim, as pessoas, porque eu nunca vi duas notícias sobre a pessoa mais velha do Mundo que dissessem que é a mesma pessoa. São sempre pessoas diferentes! Ou é um velhinho que come bananas todos os dias num lar de idosos nos Estados Unidos, ou é um velhinho peruano que fuma folhas de coca e faz grandes caminhadas algures lá no cimo de uma montanha muito alta, ou é uma velhinha chinesa que todos os dias planta arroz e bebe chá de ervas... Todos os dias há uma pessoa mais velha do Mundo, querem que as pessoas acreditem?!

Segundo, como é que a fonte desta notícia (seja ela o jornalista ou não) sabia que este senhor ia morrer e conseguiu perguntar-lhe qual era o segredo mesmo antes de isso acontecer? Ou será que foi o próprio senhor velhinho que acordou um pouco mal disposto e resolveu revelar o seu segredo da longevidade em vez de dizer "bom dia" às pessoas (senhores e senhoras de idade igualmente respeitável, muitos deles utentes assíduos de autocarros durante anos e anos a fio, e que só não são leitores deste blogue porque são americanos e não sabem ler português)? "Olhem, eu aguentei-me até aqui porque em vez de tomar os comprimidos que os médicos me mandavam dava-os ao gato e comia uma banana. Não sei se foi por isso que os gatos nunca duraram muito, mas a mim as bananas fizeram-me bem".

Por último, porque é que isto é notícia??
Vejamos, a mim parece-me que a coisa mais provável de acontecer à pessoa mais velhinha do Mundo é... isso, morrer. É normal!
Eu não vejo notícias todos os dias a dizer "Acabou de nascer o bebé mais novo do Mundo, um chinoca com os olhos em bico cuja primeira refeição foi uma taça de arroz plantado pela tetra-avó... não, peço desculpa, afinal nasceu agora mesmo um bebé americano já obeso que... e recebemos uma informação de última hora, o bebé mais novo do Mundo acaba de nascer algures nas montanhas do Peru, já com a pele envelhecida do sol. A notícia chegou a um canal de televisão peruano através do tetra-avô do bebé, que desceu a montanha a correr"!

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

X-men (and women)

Não, não venho aqui falar dos super-heróis mutantes da Marvel, Wolverine e companhia, mas sim dessa classe de pessoas, normalmente adolescentes, que escrevem português (e eventualmente outras línguas) com recurso sistemático e excessivo à letra "x"!
Certamente terão notado que usei, intencionalmente diga-se, uma palavra com a letra "x". Até aqui tudo bem. As palavras que se escrevem com "x" podem e devem ser escritas com "x". Mas só essas! Eu não ando para aí a excrever com "x" em tudo quanto é palavra, de forma ridícula, só porque alguém um dia se lembrou de comexar a excrever axim com a juxtificação de que "é fofinho". E também não gosto que escrevam para mim assim. É uma questão de educação. Que eu saiba não aprendemos português na escola para depois ser capaz de exteriorizar o carinho que sentimos por outra pessoa (viram, outra palavra que realmente se escreve com "x"). Para isso temos o intervalo, e o pavilhão da escola... E na maior parte das vezes nem sequer é preciso falar muito.

Por outro lado, se isso fosse verdade, os viseenses eram todos fofinhos. Ora, procurem uma imagem ou notícias sobre Fernando Ruas na internet e digam-me se faz algum sentido afirmar isso. Claro que não!

Vá lá, se não sabem falar português e querem ser fofinhos escrevam ou falem em italiano (diz que resulta) mas em "portuguêx" é que não.
Obrigado.

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

A guilhotina

Já falei aqui dos passes de autocarro, aqueles que andam sempre nas carteiras das senhoras e nos bolsos da camisa (ou das calças) dos homens, mas não falei das míticas senhas de autocarro amarelas, aquelas que cada vez que eram introduzidas na maquineta ficavam com um bocadinho de papel a menos. Era uma senha de papel manhoso, mais alta do que larga, que tinha uma coluna estreita de um dos lados que marcava as viagens com pequenos quadradinhos numerados. Uma vez introduzida na máquina, o último desses quadradinhos deveria ser cortado pela maquineta, ficando assim aquela senha com menos uma viagem disponível. Isto resultou bem, enquanto não se descobriu o truque daquilo.
Havia sempre aquele chico-esperto, normalmente daqueles que se sentam no banco de trás do autocarro, que conseguia meter a senha para baixo exactamente até ao ponto em que a máquina reconhecia a presença de uma senha, disparava a "guilhotina" mas não cortava nada porque na zona de corte estava uma parte da senha já cortada. Uma senha podia durar meses, nas mãos desse pessoal, ou alguns minutos, nas mãos do totó (aquele que fica logo ao pé da porta para ser o primeiro a sair), antes de passar para as mãos dos que se sentam lá atrás...
Normalmente o totó metia a senha para baixo com tanta convicção de que estava a fazer a coisa correctamente que antes de a tirar a máquina cortava 2 pedaços... realmente um azar nunca vem só!

A única vantagem destas senhas era que as senhoras mais velhinhas não demoravam meia hora a fazer levantamentos de mala só porque não queriam tirar a senha lá de dentro e os senhores mais velhinhos nem arriscavam a chegar o bolso de trás das calças ao pé daquela maquineta... só o som daquilo a estraçalhar o papel metia medo!