sexta-feira, 6 de setembro de 2013

A guilhotina

Já falei aqui dos passes de autocarro, aqueles que andam sempre nas carteiras das senhoras e nos bolsos da camisa (ou das calças) dos homens, mas não falei das míticas senhas de autocarro amarelas, aquelas que cada vez que eram introduzidas na maquineta ficavam com um bocadinho de papel a menos. Era uma senha de papel manhoso, mais alta do que larga, que tinha uma coluna estreita de um dos lados que marcava as viagens com pequenos quadradinhos numerados. Uma vez introduzida na máquina, o último desses quadradinhos deveria ser cortado pela maquineta, ficando assim aquela senha com menos uma viagem disponível. Isto resultou bem, enquanto não se descobriu o truque daquilo.
Havia sempre aquele chico-esperto, normalmente daqueles que se sentam no banco de trás do autocarro, que conseguia meter a senha para baixo exactamente até ao ponto em que a máquina reconhecia a presença de uma senha, disparava a "guilhotina" mas não cortava nada porque na zona de corte estava uma parte da senha já cortada. Uma senha podia durar meses, nas mãos desse pessoal, ou alguns minutos, nas mãos do totó (aquele que fica logo ao pé da porta para ser o primeiro a sair), antes de passar para as mãos dos que se sentam lá atrás...
Normalmente o totó metia a senha para baixo com tanta convicção de que estava a fazer a coisa correctamente que antes de a tirar a máquina cortava 2 pedaços... realmente um azar nunca vem só!

A única vantagem destas senhas era que as senhoras mais velhinhas não demoravam meia hora a fazer levantamentos de mala só porque não queriam tirar a senha lá de dentro e os senhores mais velhinhos nem arriscavam a chegar o bolso de trás das calças ao pé daquela maquineta... só o som daquilo a estraçalhar o papel metia medo!

Sem comentários:

Enviar um comentário

Que é que tens a dizer sobre isto?!